O futuro não passa pela energia nuclear e a Itália deu um passo importante por energias mais limpas e renováveis. Boa Itália!
Italianos rejeitam maciçamente a energia nuclear
13.06.2011
Maria João Guimarães, Ricardo Garcia in Publico
Os italianos votaram hoje maciçamente contra a energia nuclear, num referendo com quatro perguntas sobre três temas. Em todas, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi sofreu uma pesada derrota.
Com quase todas as secções de voto já apuradas, cerca de 95 por cento dos eleitores aprovaram uma alteração legal que rejeita o uso da energia nuclear no país. Esta posição coloca um fim nas ambições do Governo Berlusconi de reiniciar o programa atómico do país.
A Itália tem quatro centrais nucleares, construídas nas décadas de 1960 e 1970. Mas não funcionam desde 1987, quando se aprovou uma moratória ao nuclear, na sequência do desastre de Tchernobil, um ano antes.
Em 2008, o Governo anunciou a intenção de iniciar, em cinco anos, a construção de novas centrais. Nos planos governamentais, em 2030 um quarto da electricidade consumida no país seria gerada pelo nuclear.
O acidente da central japonesa de Fukushima, devido ao sismo e tsunami de 11 de Março, ajudou a voltar a opinião pública contra a ideia de Berlusconi, que reconheceu hoje a derrota ainda antes de terminada a votação.
“Após a decisão que o povo italiano tomou neste momento, temos provavelmente de dizer adeus à possibilidade de termos centrais nucleares e temos de nos comprometer fortemente com energias renováveis”, afirmou o primeiro-ministro italiano.
A Itália passa a ser o terceiro país europeu a reagir a Fukushima com a rejeição do nuclear. A Alemanha já encerrou algumas centrais e fixou o fim da energia atómica no país até 2022. A Suíça tomou também medidas semelhantes. Outros países europeus, como a França e o Reino Unido, mantém-se, ao contrário, fiéis aos seus programas nucleares.
Berlusconi fez tudo para tirar a questão nuclear do lote de quatro perguntas do referendo, mas não conseguiu.
Os referendos registaram cerca 57 por cento de afluência às urnas, conseguindo mais do que os 50 por cento necessários para serem vinculativos. A última vez que um referendo ultrapassou este limiar de participação foi em 1995. Desde então, seis consultas foram declaradas nulas.
Não à imunidade dos ministros
Além de recusarem o nuclear, os eleitores também rejeitaram normas legais sobre as águas (privatização e cálculos de tarifas) e a imunidade judicial para ministros do Governo (rejeição da lei que permite ao primeiro-ministro ou membros do Governo invocar impedimentos institucionais para não estar presentes em sessões de julgamento sobre delitos penais, cometidos no exercício do cargo, de que sejam acusados).
É mais um grande revés para Berlusconi, que apelou aos eleitores para não votarem, numa tentativa de que os referendos, pedidos pelos Verdes e pela Itália dos Valores (oposição) não conseguissem os 50 por cento. Anunciou que não iria votar e declarou que a abstenção é “um direito dos cidadãos”.
O desaire eleitoral surge numa altura já difícil para o primeiro-ministro italiano, envolvido em processos judiciais por um escândalo sexual e fraudes, e que acabou de sofrer uma enorme derrota nas eleições municipais do mês passado incluindo no seu bastião de Milão.
Sem comentários:
Enviar um comentário